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Inovação no mundo da moda: vestuário adaptado para crianças com TEA

Entenda a importância da moda inclusiva e conheça a iniciativa de Julia ao criar a sua própria marca de roupas infantis especializada para crianças com transtorno do espectro autista.
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Lorena Motter Kikuti
Estagiária de Jornalismo
Publicado em
Foto: Reprodução/Prefeitura de Curitiba

Você já refletiu sobre a complexidade que uma pessoa com deficiência intelectual ou múltipla enfrenta ao realizar a simples tarefa de se vestir? Embora pareça evidente, é crucial reconhecer que indivíduos com alguma forma de deficiência têm necessidades distintas quando se trata de moda. Esse fato se aplica à pessoa com o transtorno do espectro autista (TEA) que apresenta peculiaridades sensoriais que interferem na sua relação com a moda, em especial, as crianças. 

Conforme a obra “Aspectos Históricos das pessoas com deficiência no contexto educacional: rumo a uma perspectiva inclusiva”, de 2014, por Fernando Machado e Juliano Nazari, as crianças com TEA desenvolvem preferências sensoriais únicas, as quais desempenham um papel significativo em sua relação com a moda e as roupas. Enquanto algumas podem demonstrar interesse por texturas e sons, outras podem ser sensíveis a etiquetas e diferentes sensações táteis. Nesse contexto, os pais dessas crianças procuram principalmente por roupas de qualidade, fáceis de vestir e adaptadas à realidade de seus filhos. Além disso, é crucial que o vestuário destinado a esse público tenha um apelo sensorial e estético que atenda às suas necessidades.

Por essa razão, iniciativas de moda inclusiva, que oferecem roupas adaptadas para pessoas com deficiência e com design atrativo, desempenham um papel vital no processo de inclusão social. 

A empreendedora curitibana, Julia Nycolack, abriu a microempresa individual (MEI), a Tico e Tica Sensory pensando no conforto para as crianças com TEA. Em entrevista à TV Paraná Turismo, Julia contou que, ao entrar na faculdade de Design de Moda, já tinha o objetivo de se dedicar à moda infantil. Ainda no segundo ano de curso, a designer descobriu que estava grávida, fato que influenciou decisivamente os caminhos profissionais que ela escolheria seguir.

Arthur, seu filho, foi diagnosticado ainda bebê como pertencente ao grupo de pessoas com o transtorno de espectro autista. Foi esse diagnóstico que fez com que Julia decidisse implementar uma marca de roupas adaptadas para crianças com TEA. “O Arthur trouxe esse propósito na minha vida”, disse a designer na reportagem. 

O pequeno enfrentava considerável desconforto com as roupas do enxoval devido ao Transtorno do Processamento Sensorial (TPS), uma condição bastante prevalente em crianças como espectro.

Enquanto ainda era estudante, a mãe dedicou-se profundamente aos estudos para compreender esses transtornos e direcionou sua vida acadêmica para encontrar uma solução para o desconforto do filho. Suas pesquisas culminaram em seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) e foram aplicadas na realidade, com a criação das primeiras peças adaptadas. 

Dessa forma, Julia deu vida ao seu projeto e estabeleceu sua própria marca, oferecendo uma linha de roupas infantis adaptadas para crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA).

Inovação: vestuário adaptado

Conforme o jornal Bem Paraná, as vestimentas desenvolvidas por Julia são projetadas levando em conta as particularidades das crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e Transtorno do Processamento Sensorial (TPS). Confira as inovações:

  • Golas fáceis 
 

As peças incluem a implementação de golas com soluções que facilitam a colocação da peça sobre a cabeça. Isso porque, de acordo com uma investigação conduzida pela designer, envolvendo 144 crianças que experimentaram as roupas, constatou-se que as crianças com autismo, com idades entre 2 e 4 anos, tendem a ter uma circunferência craniana maior que a média. Portanto, a minimização do atrito durante o processo de vestir mostra-se crucial.

  • Roupas sem etiquetas e com estampas sem texturas perceptíveis ao toque
 

Elementos como etiquetas e estampas podem ser tão perturbadores a ponto de desencadear crises nervosas em crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e Transtorno do Processamento Sensorial (TPS), muitas vezes difíceis de serem identificadas pelos familiares. Portanto, as peças da coleção foram projetadas sem etiquetas e as estampas não possuem texturas perceptíveis ao toque.

  • Variedade de nível de compreensão nas peças 
 

A produção também considera o nível de compressão do tecido como um fator relevante. Para as crianças que são hiporresponsivas, ou seja, tem dificuldade de se manter no mesmo local por muito tempo ou até mesmo dificuldade de concentração, é essencial garantir que nenhum tecido pressione demasiadamente a pele. 

Novas perspectivas

Atualmente, a venda das roupas são artesanais e feitas sob encomenda. Porém, no diálogo com o Bem Paraná, Julia revelou que pretende buscar parcerias e investidores com o objetivo de substituir a produção feita à mão por um processo industrial. Ela contou que, mesmo com a expansão da produção em larga escala, os produtos continuarão a ser vendidos de maneira personalizada, atendendo às necessidades específicas de cada cliente mirim.

A moda inclusiva precisa se tornar mais frequente

A marca criada por Julia é um  exemplo de empreendedorismo que contribui para a inclusão social ao oferecer um produto que proporciona maior conforto e bem-estar às crianças com autismo.

Apesar de uma causa nobre, poucas marcas estão se adequando à inclusão. É difícil encontrar empreendimentos nacionais e internacionais que produzem roupas adaptadas para pessoas com deficiência. A própria Julia afirmou em entrevista a TV Paraná Turismo que teve dificuldade ao montar as peças, pois não encontrou referências de lojas com o mesmo propósito. Portanto, destaca-se a necessidade da indústria da moda estabelecer designs inclusivos com mais frequência. 

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