É hora de mudar a narrativa em torno da educação sexual para pessoas com deficiência. Esses indivíduos têm o direito de serem informados, protegidos e capacitados quando se trata de sua saúde sexual. Eles merecem ter acesso à informação para tomar decisões seguras e informadas sobre sua própria sexualidade. A educação sexual inclusiva não é apenas um direito, mas uma necessidade imperativa.
Segundo a Psicóloga da Apae Curitiba, Jordana Lourenço, é muito comum relatos sobre sexualidade da PCDI. “Como psicóloga na Apae, posso dizer que me deparo no trabalho com diversos relatos de manifestações da sexualidade da pessoa com deficiência intelectual. Ignorar, ocultar ou reprimir não é o modo mais adequado de agir. Estes comportamentos podem levar ao acúmulo de incertezas, insegurança e imaturidade para uma prática sexual saudável”, disse.
Lourenço também relata que as manifestações podem acontecer no dia a dia. “As manifestações da sexualidade irão se aflorar inclusive no âmbito escolar, onde passam grande parte do dia, desenvolvem vínculos afetivos e recebem influência no processo de tornar-se indivíduo. Igualmente nos sujeitos com déficits severos, mesmo que de modo mais limitado, considerando que o desejo sexual está relacionado ao desenvolvimento psicossocial e cognitivo”, comentou a profissional.
Jordana fala sobre os tabus e preconceitos e como dialogar sobre o assunto. “Tendo isto em mente, compreendemos que trazer diálogos sobre o tema, sem tabus e preconceitos, é indispensável. Propiciar discussões para compreensão da sexualidade e como esta desempenha papel primordial a todo ser humano, com uma boa educação sexual conduzida pela escola e família. Pessoas com deficiência intelectual têm o direito e precisam dialogar, receber orientação sexual e medidas preventivas contra manifestações e práticas não saudáveis, gravidez indesejada e doenças sexualmente transmissíveis”, falou.
A psicóloga lembra de uma vivência que teve em um dos atendimentos. “Em uma vivência clínica, promovi um espaço acolhedor e seguro para que meus pacientes pudessem abordar o tema sem repreensão. Durante a intervenção era notório o alívio de poderem falar sobre seus sentimentos, vontades e experiências sem a apreensão de levarem uma bronca, e também o entusiasmo por estarem sendo considerados nas suas singularidades”, relatou.
Ao finalizar, Lourenço comentou sobre estabelecer limites. “Isto não significa que não há ajuste de limites, ao contrário. Estabelecer limites é uma maneira positiva de ajudar o indivíduo a se desenvolver emocionalmente, aprendendo a controlar os impulsos, adquirindo as regras de convívio social e desenvolvendo senso crítico. E a melhor maneira de assim o fazer é através do diálogo, passando longe do autoritarismo e da superproteção”, finalizou.
A falta de discussão e a exclusão na educação sexual para pessoas com deficiência não são apenas prejudiciais, mas inaceitáveis. É imperativo que nos esforcemos para garantir que a educação sexual seja inclusiva, acessível e apropriada para todos, independentemente de suas habilidades. É apenas através dessa inclusão e compreensão que podemos esperar criar uma sociedade verdadeiramente igualitária e justa.