As doenças raras são caracterizadas por apresentarem uma ampla gama de sinais e sintomas, variando não apenas entre diferentes condições, mas também de pessoa para pessoa que compartilha a mesma afecção. Elas podem ser ou não de origem genética e, predominantemente, são degenerativas, sendo que muitas delas não têm cura e podem levar à morte dos indivíduos afetados. Essas síndromes impactam significativamente na qualidade de vida da pessoa com a doença e, frequentemente, resultam na perda da autonomia para realizar atividades cotidianas. Consequentemente, geram considerável dor e sofrimento tanto para o paciente quanto para seus familiares.
Atualmente, o número de doenças raras não é conhecido, porém considera-se que há de seis a oito mil doenças raras relatadas em todo o planeta, conforme a Biblioteca Virtual de Saúde. Apesar da diversidade de síndromes contidas na terminologia “Doenças Raras”, o traço comum entre elas é a sua baixa ocorrência na população. Segundo informações do Ministério da Saúde, as doenças raras afetam 65 indivíduos a cada 100 mil pessoas, e apenas no Brasil, há uma estimativa de 13 milhões de pessoas afetadas.
E é nesse ponto que surge a dificuldade. Diante da ampla gama de doenças, algumas delas têm escassa documentação médica. Nessas situações, alcançar um diagnóstico preciso torna-se um procedimento desafiador.
Ainda, o desafio se estende desde a localização de médicos especializados na respectiva área até a disponibilidade de laboratórios de diagnóstico que ofereçam os testes requeridos. A maioria desses exames exige tecnologia avançada e métodos de análise bastante refinados, sendo um serviço que nem sempre está acessível a todos.
De acordo com o Instituto Muitos Somos Raros, alguns pacientes enfrentam mais de 10 suspeitas de diagnóstico antes de finalmente obterem a resposta correta. Estatísticas indicam que 4 em cada 10 pacientes com doenças genéticas já foram diagnosticados incorretamente pelo menos uma vez.
A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), instituição de ciência e tecnologia em saúde vinculada ao Ministério da Saúde, ressalta que o diagnóstico de doenças raras é indiscutivelmente necessário. A realização do diagnóstico possibilita a personalização do cuidado, adaptando-o às manifestações específicas da doença de cada indivíduo. Isso abre caminho para um nível mais preciso de suporte, permitindo que pessoas com doenças raras recebam cuidados mais eficazes e desfrutem de uma vida mais longa e com melhor qualidade.
No momento, existem 17 centros no Brasil designados como referência para oferecer assistência completa a pessoas com doenças raras. Esses centros dispõem de diversos recursos, incluindo financeiros, que viabilizam o acesso a exames complementares altamente complexos, como o sequenciamento de última geração do DNA. Os recursos alocados nesses centros de referência desempenham um papel crucial ao possibilitar o diagnóstico, identificação das causas, comunicação e orientação às famílias, prognóstico e aconselhamento genético.
Visto isso, destaca-se o papel crucial do médico geneticista em relação às doenças raras, já que aproximadamente 80 a 85% delas têm uma conexão genética em sua origem, segundo dados fornecidos pela Fiocruz. Além de lidar com a pessoa diagnosticada com uma condição rara, é fundamental considerar sua família e a importância do aconselhamento genético. Uma vez que a doença pode se manifestar em outros membros da mesma família, demandando orientações apropriadas para amenizar riscos e possibilitar um planejamento reprodutivo adequado.
O processo de diagnóstico de doenças raras não deve depender exclusivamente do geneticista; é essencial envolver especialistas de diversas áreas, como neurologia, pediatria, fisioterapia, entre outras. Quanto mais abrangente for a avaliação desse indivíduo, melhores serão as opções de cuidado terapêutico disponíveis para ele.